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Fred Forest - Retrospective
Sociologic art - Aesthetic of communication
Exhibition Generative art - November, 2000
Exhibition Biennale 3000 - Sao Paulo - 2006
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DIFFERENT TEXTS
1 - Synthetisis note on the activities of Fred Forest
2 - Manifests Sociological Art (1974) and Aesthetics of the Communication (1983)
3 - The Aesthetics of the Communication by Fred Forest (1983)
4 - For an Aesthetics of Communication - Fred Forest
5 - The Video family by Fred Forest (1976)
6 - Learn to watch TV through the radio by Fred Forest and Pierre Moeglin (1984)   
7 - Why present his candidacy for President of the Bulgarian TV by Fred Forest (1991)

 

A arte no contrário da utopia

Michael Leruth, professor do College of William and Mary, U.S.A.

Fred Forest é um artista que acredita na função utópica da arte. É uma crença que ele afirma sem equívoco ao longo de sua carreira, desde a arte sociológica dos anos 70, que preconiza a passagem do "real" sociológico à "realidade" epistemológica "pela ação utópica" [ 1 ] na forma de acontecimentos "inter-subjetivos" realizados através de midias "nao artísticas" (vídeo, imprensa, televisão), até a arte "atual", onde o artista age como " fundador de novas utopias" [ 2 ] instalando "instrumentos antropológicos de prospectiva" no centro do nosso ambiente "hipertecnológico" (Internet por exemplo).  É um utopista inveterado que liderou uma passeata onde as pessoas brandiam cartazes brancos pelas ruas de São Paulo sob os olhares da polícia política em 1973, que convidou as pessoas a se tornarem cidadãos livres em seu "Território do metro quadrado" em 1980, que passou na televisão búlgara em 1991, usando um par de óculos rosa, para disputar o cargo de presidente da rede nacional deste país (que não havia ainda deixado completamente o estalinismo) preconizando uma televisão mais "utópica e nervosa", e que acaba de desafiar o presidente muito autoritário da Câmara Municipal de Nice em 2005 com um "Caminho da Cruz" formado por estações, criadas em linha pelo público, lamentando o destino da cidade sob sua tutela. Ora, Forest é um utopista original por outras razões que o simples fato de ter o atrevimento de desafiar todos os poderes. Éle é pois nos mostra o caminho à arte utópica além da famosa " condição postmoderna" "Ele é sobretudo porque nas suas ações mais famosas o processo utópico utilizado considera a utopia ao contrário.

Forest compreendeu que um verdadeiro processo utópico hoje em dia só pode ter efeito no contrário da utopia porque o próprio "lugar" da utopia se tornou inacessível. O dicionário nos diz que a utopia é, no sentido etimológico, uma "ausência de lugar" "Trata-se da ausência de lugar onde colocamos em cena nossa idéia da sociedade perfeita." Ela nasce no Quattrocento com a perspectiva e a possibilidade corolária de nos projetar, à partir de um ponto suposto fixo na realidade contingente, em um espaço puramente ideal, onde as imperfeições do mundo real são corrigidas e nossos "projetos" coletivos mais racionais, exatos e progressivos podem se realizar... em princípio.  A "Cidade ideal" muito tempo atribuída à Piero della Francesca é efetivamente a primeira utopia moderna na história da arte. De acordo com Zaki Laïdi, o "momento decisivo perspectivo" da civilização ocidental torna possível a idéia moderna do progresso, que resulta da temporalização da perspectiva, ou seja, de uma dupla projeção na utopia (a ausência de lugar) e a heterocronia (o não-tempo): a sociedade ideal que "se situa" num futuro quase mítico, o dos amanhãs que cantam. [ 3 ] Infelizmente, o próprio da "condição postmoderna" é tornar este tipo de projeção impossível.  Isso se explica de várias maneiras. De acordo com Lyotard, é porque não acreditamos mais nas grandes aventuras da modernidade (o Iluminismo, o Progresso, a Revolução etc..) ; enquanto que para Virilio, Laïdi e Maffessoli é também porque nós vivemos sob a influência de um presente todo-poderoso, ou até mesmo tirânico. Em outros termos, faltamos de fé e de tempo que a utopia necessita. Ora, para compreender o processo de Forest, é sobretudo a tese de Baudrillard que devemos ter em mente. De acordo com este último, a fonte da nossa incapacidade utópica reside no fato que "o espaço perspectivo", onde antes pusemos em cena a socialidade do projeto utópico, foi substituído por um "espaço de simulação", o das redes e das telas, onde se expõe uma socialidade não convergente da conexão anônima e onde a idéia de utopia, um simples vestígio, se limita "à de uma disseminação total, de uma ventilação dos indivíduos como terminais de informação" "[ 4 ]" Trata-se da utopia "cibernética" de um espaço virtual que se encontra simultaneamente em toda parte (mundialização, ubiquidade) e em lugar nenhum (deterritorialização, ciberespaço), onde todas as informações, que são perfeitamente iguais umas às outras, pois o sentido se dissolve no símbolo, se transmitem instantaneamente e circulam por toda a parte na mais perfeita economia de esforço. Esta "utopia"  não tem nada a ver com um projeto pois se trata de um fato realizado – a utopia realizada da êxtase da comunicação - que faz doravante parte do nosso cotidiano.

Que quer dizer então agir "no contrário" da utopia neste contexto? Enquanto que, no âmbito da ideia tradicional da utopia tratava-se de se projetar fora do mundo real, num espaço virtual, onde punha-se em cena a sociedade ideal, trata-se doravante de agir dentro do espaço virtual da pseudo-utopia da comunicação para pôr em cena um novo sentido do mundo real. Não se trata de dar a ilusão do real no virtual e ainda menos de fugir do virtual para reganhar o bom e velho mundo real do qual temos saudade. Trata-se de recriar o real a partir do virtual que nos cerca. Trata-se sobretudo de um gesto verdadeiramente utópico pois o espaço virtual da comunicação é tão inextricável quanto o espaço real da contingência já foi, e que é necessário um salto da imaginação suficientemente grande tanto para projetar um novo mundo real quanto para se projetar na cena virtual da utopia à partir da realidade contingente. Ora, no gesto utópico, maneira antiga ou nova, não ha realmente oposição entre o real e o virtual pois um continua sendo uma projeção do outro.

Em termos concretos, Forest usa várias dimensões do espaço virtual da comunicação que têm como efeito utópico de tornar este espaço mais real, por mais que o seja de maneira muito efêmera. Evoquemos aqui quatro entre as mais importantes dessas dimensões utópicas. Em ações como "150cm2 de papel branco" de 1972 e "O branco invade a cidade" de 1973, ele evita a armadilha da dissolução do sentido na comunicação de massa evacuando qualquer conteúdo específico para apresentar a pura possibilidade da existência de um espaço público aberto ao dialogo – um gesto utópico no caso do pequeno quadrado branco "interativo" que ele publicou no jornal Le Monde e simplesmente subversivo no caso da sua "falsa" manifestação em São Paulo. Em ações como "Celebração do presente" de 1985 (um trajeto de moto pelas ruas de Nápoles para atender um telefone que toca na televisão) e "A torneira telefônica" de 1992 (enchimento de um balde de água a distância por via telefônica), Forest nos mostra de maneira lúdica e poética que o espaço físico não é abolido pelas telecomunicações (de fato, ele continua a ser indispensável), mas "sublimado" por elas. Em outros termos, a arte de Forest, utópica ao contrário, põe em cena um espaço cuja "banalidade" é "transfigurada" pela passagem dos sinais electrônicos. [ 5 ] Em ações como "A conferência de Babel" de 1983 ou "Aprendam a assistir televisão com seu rádio" de 1984, ele oferece ao público interfaces alternativas que lhes permitem reconquistar temporariamente o "território" ocupado pelos que controlam as midias. Este território volta a ser real para os participantes simplesmente pelas co-presenças no meio concebido como comunidade utópica efêmera instituída por uma ocupação do espaço electrônico. Enfim, em ações em linha como "Paro o tempo" de 1998 (uma volta do mundo por webcam onde a hora de meio-dia se repete de maneira ininterrúpta durante 24 horas) e "O centro do mundo" de 1999 (uma instalação em volta da relíquia numérica do centro perdido do mundo onde se podia fazer uma peregrinação em pessoa ou em linha), Forest se instala no tempo ritual para pôr em cena suas intervenções, e "consagra" um espaço que nao é real nem virtual mas, justamente, é a fronteira entre os dois, uma fronteira cuja travessia nos faz entrar num estado subjuntivo coletivo que torna todas as utopias possíveis [ 6 ]

Considerada ao contrário como é feito nas obras de Fred Forest, a utopia volta a ser uma realidade e a arte reencontra por esse meio uma verdadeira uma função social ética.

[1] Fred Forest, « Réflexions sur l’art sociologique » em Art sociologique : dossier Fred Forest (Paris: 10/18-U.G.E., 1977) : 62. 

[2] Fred Forest, Pour un art actuel : l’art à l’heure d’Internet (Paris : L’Harmattan, 1998) : 254.  

[3] Ver Zaki Laïdi, Le sacre du présent (Paris: Flammarion, 2000) : 43-97.  Ver também Olivier Grau, Virtual Art : From Illusion to Immersion (Cambridge, MA : MIT Press, 2002).

[4] Jean Baudrillard, A l’ombre des majorités silencieuses, ou la fin du social (1978 ; Paris : Denoël-Gonthier, 1982) : 88.

[5] Ver Arthur Danto, La transfiguration du banal (Paris : Seuil, 1989).  Ver também Mario Costa, Il sublime technologico (Naples : Edisud, 1990).

[6] Ver Michael F. Leruth, « From Aesthetics to Liminality : The Web Art of Fred Forest », Mosaic 37.2 (June 2004) : 79-106.

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