|||||||||||||||||||||||||||||| 
Fred Forest - Retrospective
Sociologic art - Aesthetic of communication
Exhibition Generative art - November, 2000
Exhibition Biennale 3000 - Sao Paulo - 2006
PRESENTATION
EXHIBITION
REFLECTION
COLLOQUES
WHAT'S NEW
CONTACT
> Editorial (Portuguese)
> Artworks/Actions (English)
> Criticism (Portuguese / English)
> Biography (English)
> Bibliography (English)
> Nota de síntese (Portuguese)
> Retrospectiva online (Portuguese)
> Audio conference (English)
> Videos (English)

"AVANT-PROPOS"
Louis-José Lestocart Portuguese version
Louis-José Lestocart : l'oeuvre-système invisible ou l'O-S-I English version
 
AUTHORS
Vinton Cerf English version
Priscila Arantes Curator of the exhibition "Retrospective au Paço das Artes" Portuguese version
Sandra Rey Portuguese version
Michaël F Leruth Portuguese version
Evelyne Rogue French version
Annick Bureaud English version
Mario Costa Portuguese version
Jean Devèze English version
Vilem Flusser Portuguese version
Derrick de Kerckhove Portuguese version
Pierre Lévy Portuguese version
Marshall McLuhan Portuguese version
Pierre Moeglin English version
Frank Popper English version
François Rabate English version
Pierre Restany English version
Pierre Restany Portuguese version
Pierre Restany English version
Edgar Morin Portuguese version
Harald Szeemann English version
   
DIFFERENT TEXTS
1 - Synthetisis note on the activities of Fred Forest
2 - Manifests Sociological Art (1974) and Aesthetics of the Communication (1983)
3 - The Aesthetics of the Communication by Fred Forest (1983)
4 - For an Aesthetics of Communication - Fred Forest
5 - The Video family by Fred Forest (1976)
6 - Learn to watch TV through the radio by Fred Forest and Pierre Moeglin (1984)   
7 - Why present his candidacy for President of the Bulgarian TV by Fred Forest (1991)

 

Do concreto ao sensível na obra de Fred Forest

Sobre a Retrospectiva “Circuitos Paralelos” no Paço das Artes/SP

Fred Forest tem se destacado como dos principais artistas contemporâneos que adota o universo das mídias e da comunicação como um campo de criação. Apropriando-se dos meios de comunicação enquanto instituição de arte em igual importância ao espaço dos museus e outros lugares consagrados da arte contemporânea, este artista escolheu atuar deliberadamente de forma “paralela” aos circuitos oficiais da cena artística construindo um não-lugar para a arte amparando-se dos meios de comunicação como se fosse um material: “agir sobre e não na mídia de massa”, como bem observava Vilem Flusser em seu texto de 1975. As conseqüências artísticas, estéticas e sociológicas desta utopia, é o que podemos apreciar nesta Retrospectiva, com muita propriedade denominada, “Circuitos Paralelos”.

Através de uma ação initerrupta ao longo de mais de quarenta anos Fred Forest vem realizando uma obra que dá prosseguimento a questões fundamentais colocados no modernismo, tal como Gabo, por exemplo, formulava em 1920: “– como pode a arte contribuir ao presente da história do homem ?” e leva adiante uma obra que ultrapassa os parâmetros e instituições que definiam a arte do século XX propondo seu extravasamento das paredes e muros de museus e galerias para os espaços da realidade cotidiana. Por suas manifestações estéticas em ações na cidade e intervenções nos meios de comunicação, Forest coloca-se com bastante astúcia numa situação histórica de ruptura sem precedentes. Performer, interventor das redes de comunicação, provocador, ele não se poupa de inventar estratégias para uma reconstrução da arte e da estética tomando como base os mecanismos da sociedade de informação e o acontecimento incontestável da tecno-ciência.  Sua obra, tanto artística quanto teórica, constitui-se numa poderosa reflexão sobre os códigos de comunicação. Seu trabalho fundamenta-se em questões ideológicas, simbólicas e estéticas concebidas para desalojar a arte centrada sobre uma economia do objeto, para práticas alinhadas sobre a economia da informação e da comunicação.

Identificamos, em meio à diversidade de médiuns que utiliza, – imprensa, telefone, fax, vídeo, radio, televisão, computador, anúncios luminosos, redes telemáticas e a Web – a presença de uma idéia ou princípio fundamental : aquele de colocar em evidência as deficiências e fragilidades dos códigos aceitos pela sociedade.

Segundo o próprio artista, seu trabalho configura-se em duas etapas bem definidas: A “Arte sociológica” e a “Estética da comunicação” que se desenvolvem como evolução mais precisamente que como dois movimentos diferentes, os quais observa-se fundir-se num só movimento, com o advento da Internet mais próximo à virada do presente século.

O período da arte Sociológica situa-se entre os anos 60-80 e é bastante marcada pelos acontecimentos de 1968, em Paris. Em 1974 Fred Forest, juntamente com Hervé Fischer e Jean-Paul Thénot, decidem constituir o coletivo de arte sociológica que funcinará como estrutura de acolhimento e de trabalho para esta manifestação. Fred Forest redige vários manifestos em que são colocadas as bases teóricas do movimento.

O que a arte sociológica propunha como ruptura em relação ao sistema modernista é a substituição do trabalho de arte enquanto objeto material. Questionando a arte como fenômeno puramente visual e a obra como um objeto de consumo para as elites;a arte sociológica propõe não centrar mais seus objetivos no exercício virtuoso de uma técnica, nem na performance de matérias ou de substâncias, visando criar um objeto estético de caráter bi ou tridimensional (uma pintura, escultura ou fotografia, por exemplo).

O valor institucional da obra de arte e as finalidades afirmativas da estética tradicional são desconsiderados em favor do contexto para colocar em cena as deficiências e fragilidades dos códigos sociais. O campo de ação é constituído enquanto intervenções no sistema de relações sobre as quais a sociedade se organiza.

Sua matéria prima é a rede de instituições culturais e os dados sociológicos fornecidos pelo meio-ambiente as quais, através de estratégias com base na estética, inventando as técnicas de sua experiência, o artista busca fazer aparecer a realidade concreta das relações sociais que determinam os indivíduos e que as ideologias dominantes persistem em ocultar em suas ações e discursos. Na arte sociológica é atribuído ao espectador um papel preponderante na apreensão do fenômeno artístico, através da promoção de sua participação nas instâncias decisórias do devir dos processos.

É a experiência sensorial que torna-se o centro de interesse e é nela que completa-se e esgota-se, a experiência estética. A arte sociológica se quer como prática pedagógica e subversiva para revelar o real funcionamento das relações sociais, os modos de exploração, a lógica política dos sistemas de valores dominantes e suas mistificações cotidianas. Ela visa permitir ao indivíduo o exercício crítico do julgamento e de sua liberdade em relação a uma ordem social que falsamente apresenta-se como necessária e natural. Para Mario Costa as produções, “não são mais caracterizadas pelo simbólico e pelas sugestões nebulosas que daí decorre, mas possuem uma essência cognitiva indispensável e clara”.

Incluem-se entre as ações da arte sociológica a apropriação dos meios de comunicação tais como os jornais, a televisão, a radio, e a Internet com a finalidade de criar circuitos alternativos de criação e veiculação da obra de arte. 

Na arte sociológica o artista age por estratégias de deslocamento ou transferência de informações propondo situações e experiências que cultivam a subversão da lógica política dos sistemas e processos culturais, habitualmente fechados e colocados como “verdade” pelos valores dominantes. No Brasil, o trabalho de Paulo Bruske, apresentado na última Bienal de São Paulo, encontra referências na arte sociológica por sua atuação contestatória durante o regime militar e por ter desenvolvido um trabalho considerável sobre os meios de comunicação e os circuitos alternativos da arte.

Mas as operações de Fred Forest no período da arte sociológica, resultaram numa crítica manifesta sobre o poder de manipulação da informação assim como do contexto ideológico-mediático. O que o artista visa ao “revelar” estas mistificações cotidianas, é a transformação das ideologias e uma tomada de consciência do indivíduo sobre a alienação social. Assim foi, por exemplo, ”O Branco invade a cidade” (1973), ação artística na Bienal de São Paulo e a “Caminhada Sociológica no Brooklyn”, do mesmo ano, ambas atividades realizadas no espaço público. Mas também o vídeo “Troisième âge” (também de 1973) experiência conduzida em um asilo de Hyères, na França, em que Forest, munido de seu equipamento de vídeo, gravava documentos sobre a vida quotidiana desta casa para aposentados e, a seguir, projetava essas fitas aos idosos com a finalidade de criar uma experiência no campo artístico.  

Sem cair na armadilha de propor novos modelos de organização social, trata-se na arte sociológica de Fred Forest, de exercer o poder dialético de um questionamento crítico e de criar situações que perturbam os circuitos de comunicação institucionalizados.

Forest sabe que não pode mudar a imprensa, os meios de comunicação e os circuitos institucionais da arte ; mas aposta que criando situações que revelam o que são, pode-se mudar os pontos de vista. No manisfesto constam o realismo e o desvio como princípios sobre os quais apoiam-se as estratégias da arte sociológica.

Observa-se no conjunto de sua obra deste período, a colocação em prática de inúmeras estratégias de resistência aos discursos ideológicos e mediáticos institucionalizados e a invenção de dispositivos que denunciam o fato que a realidade se forja e se constrói a partir das redes de comunicação que se estabelecem de maneira contextual na sociedade, tendo em vista as ideologias dominantes.

Mas desde o início dos anos 80 tornam-se mais evidentes o abrandamento do poder do estado em favor das grandes corporações multinacionais, e adquirem força os processos de desmoronamento dos regimes totalitários. Cresce o poder da mídia enquanto formadora de opinião. Em 1983 Fred Forest assina, juntamente com Mario Costa e Horacio Zabala, o manifesto da “Estética da comunicação” e na semana seguinte juntam-se a eles Roy Ascott (G.B.) Derrick de Kerckhove (Canada) entre outros artistas de diversos países. Este grupo de trabalho desenvolverá, a partir de 1983, os aspectos teóricos e as práticas artísticas deste movimento. Entre as diversas ações constam a cadeira de Estética e manifestações “Art Média” organizada por Mario Costa na Universidade de Salerno  e o Seminário “arte : comunicação/novas tecnologias” dirigido por Fred Forest na Universidade de Paris I e posteriormente em Nice, no Museu de Arte Contemporânea, entre 1995 e 1998. O vínculo estreito da Estética da comunicação com produção e transmissão de conhecimento na Universidade, assinala a mudança de paradigma nos meios de produção e ensino da arte, desde o século XIX localizados na instituição da escola de Belas Artes.

No manifesto assinado no Mercato San Severino, em Salerno, 29 de outubro 1983, é colocada a importância das redes em detrimento do conteúdo das informações, isto é, o grupo anunciava que “os mecanismos tornam-se cada vez mais proponderantes em relação aos conteúdos da comunicação”.

Observa-se que o tom de subversão, característico da arte Sociológica, ameniza-se na Estética da comunicação, porque o mundo está mudando rapidamente e drásticamente sob os efeitos da tecno-ciência. O grupo do manifesto da Estética da Comunicação entende que deve centrar seus esforços sobre os meios de comunicação nos quais concentra-se o verdadeiro eixo de poder na sociedade contemporânea.

A Estética da Comunicação representa uma evolução da arte Sociológica muito antes, como havíamos mencionado, de considerar qualquer ruptura. O que se introduz como diferença na obra de Fred Forest é que no período da Arte sociológica o artista atuava com maior precisão na concepção de estratégias de ações, enquanto que na Estética da comunicação ele permite-se um alargamento de seu campo de ação ; a obra é pensada como estrutura aberta, o aleatório e a participação do público são introduzidos através de processos de comunicação interativos.

Seu trabalho passou a adotar desvios e posicionamentos mais sutis. Forest cada vez mais ancora sua trajetória sobre uma relação particular que se estabelece entre si-mesmo e seu contexto. Cada um dos projetos requer a criação de um dispositivo operacional e a elaboração de uma estratégia adaptável a diferentes cenários. Assim é o “Tecno-mariage”, de 1999, em que o artista transforma a cerimônia de seu casamento com Sophie Lavaud, também artista das novas mídias, em acontecimento na rede Internet. A cerimônia é transmitida em grandes telas no Instituto franco-japonês de TOKYO, num Web-café de Paris, e nas docas do Sul de Marseille, além do site que podia ser acessado de qualquer ponto do planeta. Através de um programa de realidade aumentada o casal também habitava, na forma de clones, o espaço virtual, em 3D, na sala casamento. Neste trabalho o artista hibrida a realidade do acontecimento de uma cerimônia privada com a simulação própria aos ambientes de rede propondo um novo modelo para uma cultura em emergência. Percebemos a ambigüidade entre o real e o virtual ampliar-se nesse trabalho pelo vínculo estreito com a figura e vida pessoal do artista, e instaura-se um certo transe que coloca o sentido em suspense. 

Na fase da Estética da comunicação observa-se o movimento de abrandamento dos questionamentos críticos próprios à arte sociológica para ceder lugar a uma “maior sensualização da vivência, a uma exaltação do lúdico e a uma maior qualidade das trocas humanas”, expressos em manifesto.

A Estética da comunicação, segundo seus autores “esforça-se por intergrar os dados relevantes da filosofia, das ciências humanas e das ciências exatas para tudo que seja suscetível de contribuir para o conhecimento de seu objeto que é o sensível”.

Prestemos atenção a este deslocamento, nos propósitos teóricos do artista, da ênfase colocada no concreto e no real, durante o período da arte sociológica, para o sensível na Estética da comunicação.

Quarenta anos passados dos tempos heróicos da arte Sociológica, hoje estamos vivendo um momento histórico sem par em termos de avanço tecnológico assim como mudanças de pontos de vista e paradigmas na sociedade contemporânea. Cada nova invenção ou descoberta implica em efeitos consideráveis na percepção do mundo, nas relações inter-pessoais, e na subjetividade individual e coletiva.

As tecnologias de informação tornaram-se suscetíveis de melhorar a qualidade de vida ou de desestabilizar a ordem social;  como vivenciamos nos últimos eventos que sacudiram São Paulo e o país inteiro, na semana passada. Maio/2006, no Brasil, torna explícita uma revolução sorrateira que expõe a sociedade a confrontar-se com efeitos perversos da contaminação das tecnologias da informação em todas esferas da vida coletiva.

Que papel poderá desempenhar o artista na configuração desse novo contexto ? Tudo indica que a sociedade e a arte do século XXI apontam para cruzamentos e hibridações as mais diversas entre o real e o virtual.

– Caberia ao artista, cada vez mais no mundo contemporâneo, ‑ no lugar de representar o real através de sistemas figurativos baseados na economia do objeto, ‑ reinventar o cotidiano, criar “circuitos paralelos”, traçar pontes entre o real e o imaginário contribuindo na construção desse não-lugar que é a utopia ?

Parece ser esse o sentido da Obra que esta Retrospectiva coloca em evidência. Sem dúvidas, é na aposta dessa utopia que o trabalho de Fred Forest investe a quase cinqüenta anos : criar estratégias, dispositivos e situações para fazer o real curvar-se aos nossos sonhos.

Sandra Rey 

POA, maio 2006

^


Presentation | Exhibition | Reflection | News | Contact

Copyrights Fred Forest