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Installation
Internet
BIENNAL
OF THE YEARS 3000
SAO PAULO MAC ( MUSEUM OF CONTEMPORARY ART) PARC IBIRAPUERA
SAO PAULO
http://www.biennale3000saopaulo.org
A Bienal 3000 de São Paulo é um acontecimento
que ficará na história da arte como um novo
modelo para sua produção, difusão e relação
com o público na sociedade da informação
e comunicação, na qual vivemos.
A Bienal
3000 é uma Bienal planetária, digital, participativa
e prospectiva que ocorre no espaço físico do
MAC (Museu de arte Contemporânea de São Paulo)
e no espaço virtual da Internet.
Diversos
críticos de arte reunidos em Paris para seu Congresso
Internacional em outubro de 2006 já a reconheceram
sua importância. Além da 27ª Bienal que
foi seu ponto de ancoragem, a Bienal 3000 de São Paulo
questiona criticamente os circuitos da arte contemporânea
e seu funcionamento. Em 1º de novembro de 2006 a ação
Bienal 3000, concebida e realizada por Fred Forest, simultânea
à 27ª Bienal oficial de São Paulo, já
pode ser considerada um sucesso especial. Deve-se notar que
este projeto continuará a se desenvolver até
dia 15 de dezembro de 2006. Por conseguinte, pela comunicação
viral induzida pelo artista na Internet através de
suas próprias redes, este sucesso ainda não
pôde atingir dimensão ainda mais importante.
Até agora houve mais de 1.000 participações,
boa parte delas do Brasil e América Latina, mas também
da França, Portugal, Canadá, Bélgica,
Itália, Eslovênia, Áustria, Polônia,
etc. São pinturas, desenhos, fotos, vídeos,
performances, esculturas, poemas e uma reflexão teórica
sobre arte que indicam uma ampla diversidade de disciplinas
representadas.
Tal participação
já seria em si expressiva, mas o que chama a atenção
é, de modo global, a própria "qualidade"
das obras propostas pelos internautas! A experiência
de Fred Forest é uma experiência enriquecedora
na medida em que ela nos permite questionar, dentro da arte
contemporânea, a pertinência dos julgamentos dos
críticos (os curadores das bienais e outras manifestações)
de quem decide, recusa ou ignora artistas que se candidatam
a apresentar suas obras ao público.
O Congresso
Internacional da AICA (Associação Internacional
dos Críticos de Arte) que acabou há pouco em
Paris, demonstra uma crise da profissão perante a dificuldade
de seleção, que só cresce. O congresso
percebe um deslocamento cada vez maior da estética
para a sociologia e a antropologia. O problema que Forest
quer marcar, ele que é doutor pela Sorbonne e tem assim
respaldo para se manifestar sobre esta situação,
do mesmo modo que um curador de qualquer exposição
oficial, é a onipresença do mercado, seja em
São Paulo, na Documenta de Kassel, na Bienal de Veneza
ou na FIAC em Paris - o que contribui a prerrogativas e arbitrariedades
que influenciam direta ou indiretamente a seleção
de obras. Assim, seria a economia quem, em última instância,
determinaria e legitimaria quais os valores simbólicos
da sociedade contemporânea? Sabendo-nos breves, poderíamos
dizer que não é mais Kant quem decide, ou Artur
Danto, mas Bill Gates hoje e, amanhã, o Google!
Se a 27ª Bienal recorres a Roland Barthes para legitimar
seu conceito fundador, se fosse para lançar mão
da reflexão universitária francesa, ela poderia
fazer o oposto e recorrer a outro filósofo, Jean Baudrillard,
que teve a oportunidade de denunciar em alto e bom tom a arte
contemporânea como uma impostura.
O segundo
ponto que gostaríamos de notar é como a ação
de Forest ressalta o fracasso desta 27ª Bienal que pretendia,
sem prudência, e apoiada por propagandas e colóquios
preparatórios, ser uma bienal popular, periférica,
dispersa, etc. O resultado negativo é edificante e
não serão dois ou três grupos político-sindicais,
utilizados como álibis, que mudarão algo. Lisette
Lagnado é muito mais inteligente que isso para saber
que a questão da arte não é uma questão
de bons sentimentos, mas de educação, do meio
social e da transformação das superestruturas,
como diria Marx. Neste caso não se trata de um filósofo
do Colégio da França quem poderia mudar alguma
coisa, de qualquer modo, um político à la Lula,
se não o derrubam de seu pedestal (?).
A ação de Fred Forest pretende por sua demonstração
crítica apontar para, de um lado, a arbitrariedade
de escolha das bienais oficiais e, de outro, mostrar que as
redes da Internet e seus espaços virtuais constituem-se
como uma alternativa digital que pode sinalizar uma mudança
cultural inexorável. Na ação de Forest,
artistas reconhecidos e importantes também quiseram
se manifestar. Foram os casos de Eduardo Kac, Clemente Padin,
Maurice Benayoun, Miguel Chevalier, Lucas Bambozzi, Gilbertto
Prado, Roland Baladi, Roland Sabatier, Jean-Noel Laszlo e
dezenas de outros. Mas na Bienal 3000 também há
numerosos outros artistas que jamais foram convidados para
uma Bienal, cuja produção não deixa nada
a desejar ao que vemos nas galerias de Nova York, Londres,
Milão ou Berlim, ou mesmo em alguns museus de arte
contemporânea que frequentemente se contentam em seguir
o movimento e se enquadrar no mercado. Um mercado que, sob
a forma do marketing cultural, faz e desfaz valores e reputações
como em manipulações da bolsa.
Forest nos mostra, com a Bienal 3000, que vias alternativas
se abrem a esses artistas agora, que capazes de por conta
própria utilizar as tecnologias de comunicação.
Em vão, Fred Forest pediu cortesmente a Lisette Lagnado
a possibilidade de organizar com ela um debate público
sobre essas questões, mas a única resposta da
curadora da 27ª Bienal, até agora, é uma
recusa silenciosa, prudente e envergonhada.
Enfim, para finalizar, é importante dizer que Fred
Forest fez uma instalação no MAC com um dispositivo
pelo qual sua Bienal do Ano 3000, de maneira minimalista,
permite por um minúsculo orifício, que se descubra
a imensidão do mundo. A imensidão de um mundo
infinito, onde imagens, sons, palavras, vídeos, propagam-se
por um espaço virtual apropriado pela arte atual. Se
a 27ª Bienal oficial de São Paulo não apresenta
sequer uma instalação ligada à Internet,
Fred Forest mostra que ele, sim, conseguiu realizar uma Bienal
popular, periférica e dissolvida que a Bienal oficial
tanto quis realizar. Será preciso esperar que este
ensinamento seja apropriado pela Bienal oficial do ano 3000...
Etienne
Boulba
Crítico independente de arte
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